sexta-feira, 11 de setembro de 2009

GERMINAR TUA SEMENTE

Germinar tua semente
Deixar nascer tua alma, teu eu,
Brotar da terra tua mente
Rompendo o solo endurecido
Passando por entre raízes e pedras
Na direção do sol, do ar
Do orvalho que molha sua tez
Que lhe tira a poeira e lhe
Permite o brilho

Brotar tua coragem,
teu experimento, teu tronco, tuas folhas,
Deixar produzir sementes, romper as flores,
O belo, quebrar correntes
E ver teu fruto que nem sempre é o mais bonito
porém maduro, sem a acidez do verde
inexperiente, somente o doce de saber que
é seu fruto, simplesmente.

Depois de maduro o fruto,
colher, saborear tua carne, teu gosto,
beber teu suco, teu sumo, teu prazer
espalhar-se à sombra de tuas esperanças
dormir no berço de tua alma alimentada,
saciada de lutas e sonhos, de perdas e ganhos,
de todos os imperfeitos prazeres que te
realizam, alheia a beleza de qualquer fruto
Que não esteja em seu quintal.

Separar então teu tudo, tua melhor semente
Arar, preparar a tua terra novamente,
Plantar o que te falta, teu complemento,
Limpar de ti tudo o que não te pertence,
Ervas daninhas, dores escondidas, noites insones,
Esperar então o brotar mais belo, mais bonito,
De dentro de teu ser, de tua alma
Como a mais forte de todas as árvores,
Teu psiquê, tua personalidade
E ser somente você, liberta enfim
De todas as vaidades que tão tolas se faziam
Que lhe tolhiam teus passos, teu andar,
Tua liberdade.

QUE FAZES TU?

Negas as palavras à tua boca
E o paladar aguçado ao teu sabor
Transgride tua alma covardemente
Com a submissão miserável do teu ser

Como assustada presa do deserto
Foge ao uivo do vento, pensando ser lobos
Se escondendo na largura de seus pensamentos
E estreita visão do teu poder, de tua mente

Nada buscas porque nada és
Senão aquilo que aceitastes como a tua hipócrita missão
dormir, trabalhar, comer, alimentar o corvo com tuas próprias mãos.

Negas então tua presença fazendo presente tua ausência
Fantasma do meio-dia, sombra viva da tua imponente potência
De ser caça vil, um amontoado de carne que após sugado
Fica o bagaço, o trapo jogado ao meio-fio.

Que fazes com tua existência?
És um deserto fétido do pouco que desejas então?
És teu próprio álibe, tua desculpa burra
tua tolerância, tua abnegação?

Que fazes tu com tua existência?
És tu Juiz sedento e voraz de sua consciência
Que te acusa e o condena ao inferno da aceitação?
Sois como cavalos domados e selados
Não tem mais seu próprio caminho, sua liberdade selvagem
Sua fêmea preferida, sua procriação.

NÃO VEJO FLORES

Assombrada fica minha alma
E espantado o meu espírito
Porque no caminho não vejo flores
Somente sinto espinhos, sequer vejo as cores
Até sinto o perfume, mas não sinto amores
Como algo invisível, intocável, inconcebível
mas que tenho a certeza que aqui está.

Como pode a natureza humana
Se endurecer, se amordaçar,
Ser o seu próprio algoz
o seu próprio inquisidor
Se materializar no silêncio de sua voz
Negar sua liberdade, comer o resto, lamber o prato
Morrer sorrindo, e dizer: não sinto dor.

Assombrada fica minha alma, quando vejo então
Que usam cabrestos e aceitam celas
Animais ensinados, inteligência burra
Insanidade perfeita para as regras
A exatidão dos passos medidos milimetricamente
Para serem iguais, imperfeitamente iguais
Mansos e perfeitamente adestrados
Assim como bestas, que andam livres pelos pastos
E tem a visão de seu infinito horizonte
Até ali, onde estão as porteiras e a cerca
De arame farpado.

Chora o meu espírito, derrama-se em lástima
Meu coração, ver assim alegrias furtivas,
Sorrisos passageiros, esmola moral.
“Ah! Mas tá bom, primeira pagina do jornal
Sou astro, sou grande, por hoje sou rei!”
Que mísera e infame abnegação.

Sou gente, sou sangue, sou suor, sou semente
Sou povo, sou único, sou eu a minha própria razão
Bandeiras eu ergo pois sou também minha nação.

Que não chore mais meu espírito, nem sucumbam
Nossos sonhos aos devaneios de alguns
Que eu sinta o cheiro das flores, que eu veja as cores
E por que não, que eu sinta amores
Proclamar a liberdade, libertar a voz, a vaidade
Expandir enfim seu horizonte, acordar do sono constante
De ser um número e nada mais.

PRISIONEIRA NAÇÃO

Vejo no ar um brilho ácido
Que fere e perturba a minha visão
Que cega os olhos de minha consciência
Invade a minha massa cinzenta
Põe travas e amarras na multidão

Como podem ser instrumento grosseiro
De tolas ideologias e doces palavras,
Ferramenta inútil de transformação?
Aceitas o jogo de conquistas baratas
Ao preço de nada, em troco de sua prisão?

Sóis então mestres da podre consciência
Que alarga a mentalidade burra
Alunos de uma mentira que impregna
E esconde a porta de saída
Com sutis hipocrisias, cestas básicas
De ignorância e uma certeza de palavras mudas

Quem sóis, se igual te comportas?
Democráticos desejos de realização?
Usam sua imbecil inteligência
Para arrotar um restaurante caro
Um posto ocupado, uma língua estrangeira
Uma farta variedade de sandices, uma elocubração

Sóis tão igualmente à célula mater do poder
que aceitas infames fantasias?
“ESTAMOS PENSANDO EM VOCÊ!”
Tens em mente a mesma vontade
Posto que libertos não serás.
Sóis prisioneiros cegos de todas as obscuras
promessas que teus ouvidos surdos escutaram
e tua podre consciência questionou:
“Por que não posso eu também estar ali,
ficar deitado em berço esplêndido,
descansando em meu poder?

Farta e falsa cegueira nacionalista!
Sóis tão tolos em suas mentes!
Enganar-se? Por quê? Sóis dementes?
Dos filhos desta terra sóis semente,
Sóis eterna plantação!
Libertas, libertas, que serás então.

BIZ, BIZ, BIZ

Vivemos na mesma liberdade dos prisioneiros
Em cárcere a céu aberto, atrás de muros e grades
Que nos protegem de nós mesmos

Vivemos na mesma prisão da liberdade que nos une
Em torno da covardia que nos pune
Como castos senhores da igualdade

Vivemos na mesma igualdade dos desiguais
Nas mesmas diferenças dos banais
Como mais um que se nega sutilmente
E se disfarçam de seres reais

Vivemos na mesma nobreza dos imorais
Na fúnebre liberdade dos imortais
Súditos inúteis de leis condicionais
Como palhaços de um circo
de platéia muda que bate palmas e pede biz
sem entender que a piada é a massa
e que VOCE é a caça....

Vivemos na mesma prisão daqueles que determinam a liberdade
Senhores feudais,
donos da brutalidade que covardemente invade nosso sono,
enquanto dormem tranqüilos, em suas camas macias
Cifrões enfeitando seu descanso, cá fora as vidas vazias
Se jogam por sobre panos, papelão e farrapos....

Panos... é o que lhes faltam para cobrir sua falta de vergonha....
Papelão...politicamente corretos, donos da lei e sujos de lama....
Farrapos...
Olhando assim, com um olhar bilateral
Talvez todos sejam iguais
Uns mergulhados em sedas
Outros fazendo dos farrapos, sua cama.

ROLETA RUSSA

Medra o sangue ao temor de vê-lo espalhado,
Orvalho de tristeza em campos de guerra, soldados
Sem uniformes nem coturnos reluzentes

Praças de guerra, guerras em praças, em ruas
Guerra civil, verte-se o sangue civilmente
Civilizadamente veste o luto cruel, brutal
Levar até o túmulo o inocente, imprudente fostes
Que andavas distraído, e a bala, perdida,
Encontra sua morada ferozmente.

Embate funesto, renegado, alistas e convocas
O frescor das manhas juvenis, soldados
Desarmados de pátria, desertores de sua própria essência
Dão-lhes o frio do aço empunhado
Alvo desfocado, o que importa?
homem, mulher ou criança.

Medra o sono, à luz que corta o escuro da janela
O som da bala cortante, o tiro certo e o errante
O estalar repetido, seco, o estampido
Levar repetidamente até o túmulo, o inocente.
Onde estavas, que não correu, não se escondeu?
E a bala, perdida, repete sua sina,
Encontra sua morada ferozmente.

Campo de guerra, barreiras armadas
Por sacos de areias sociais, o frio da lápide
Não amedronta, e precoces lançam-se ao fim, à morte
Roleta russa, desatino, empunham-lhe em sua mão frágil
O ferro, o berro, o homem ainda menino

Medra o ar, ao cheiro do chumbo queimado
Estilhaços humanos, a carne, o corpo perfurado
Esqueletos aquartelados, quartéis a céu aberto
Guerrilha sem fronteira geográfica, sem causa
Bandeira livre para o caos, a violência.

Ordem, leis e progresso, medra a mão que embala
O ventre livre, à sina, o morro de artefatos vocais,
Vocabulário rico para analfabetos morais,
o beco do discurso mágico,
o coelho tirado magicamente da cartola,
e a bala rajante, cortante, passa solitária,
Abrindo fendas e covas, e mais uma vez, perdida
Encontra ferozmente sua morada.

POSSIBILIDADES

Bebo da vida que passa pelas ruas
Alimento-me desavergonhadamente da alegria
Espalhada nas mesas da madrugada
Nos botequins da cidade
Canto sem nenhum pudor canções que nem sei a quem pertencem
Mas que servem para me derramar em palavras ao meu amor
Arranco minhas vestes que escondem hipocritamente minhas palavras
Exponho-me como um quadro pendurado na parede
Deixo em aberto em mim todas as possibilidades

O que será que pelas ruas você viu e não encheu o teu copo?
Por quais madrugadas passaste que tua cadeira à mesa permaneceu vazia?
Vem cá, companheiro, senta aqui junto de mim
Vergonha de quê? A canção que canto também não é minha
Também não é daquele ali, que canta com o violão afinado
Espalha-te comigo nas mesas dos botequins
Derrama também teu amor nas ruas da madrugada.

Ah! Madrugada! Amante inseparável dos poetas,
Escuridão disfarçada pelos postes com sua indiscreta claridade
Alcoviteira doce dos apaixonados, beijos e abraços apertados
Companheira fiel dos solitários...
Vem! Senta aqui você também.
Deixa escapar do teu peito a tristeza que te invade
Atente o teu pudor, espalhe na madrugada teu amor,
Cante qualquer coisa que te dê na “telha”
Fale poesia, conte uma história, uma piada
Encha teu copo de alegria
Alimente-se da madrugada
Tome um porre de paixão
Deixe livre tua alma.