sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ROLETA RUSSA

Medra o sangue ao temor de vê-lo espalhado,
Orvalho de tristeza em campos de guerra, soldados
Sem uniformes nem coturnos reluzentes

Praças de guerra, guerras em praças, em ruas
Guerra civil, verte-se o sangue civilmente
Civilizadamente veste o luto cruel, brutal
Levar até o túmulo o inocente, imprudente fostes
Que andavas distraído, e a bala, perdida,
Encontra sua morada ferozmente.

Embate funesto, renegado, alistas e convocas
O frescor das manhas juvenis, soldados
Desarmados de pátria, desertores de sua própria essência
Dão-lhes o frio do aço empunhado
Alvo desfocado, o que importa?
homem, mulher ou criança.

Medra o sono, à luz que corta o escuro da janela
O som da bala cortante, o tiro certo e o errante
O estalar repetido, seco, o estampido
Levar repetidamente até o túmulo, o inocente.
Onde estavas, que não correu, não se escondeu?
E a bala, perdida, repete sua sina,
Encontra sua morada ferozmente.

Campo de guerra, barreiras armadas
Por sacos de areias sociais, o frio da lápide
Não amedronta, e precoces lançam-se ao fim, à morte
Roleta russa, desatino, empunham-lhe em sua mão frágil
O ferro, o berro, o homem ainda menino

Medra o ar, ao cheiro do chumbo queimado
Estilhaços humanos, a carne, o corpo perfurado
Esqueletos aquartelados, quartéis a céu aberto
Guerrilha sem fronteira geográfica, sem causa
Bandeira livre para o caos, a violência.

Ordem, leis e progresso, medra a mão que embala
O ventre livre, à sina, o morro de artefatos vocais,
Vocabulário rico para analfabetos morais,
o beco do discurso mágico,
o coelho tirado magicamente da cartola,
e a bala rajante, cortante, passa solitária,
Abrindo fendas e covas, e mais uma vez, perdida
Encontra ferozmente sua morada.

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