sexta-feira, 11 de setembro de 2009

NÃO VEJO FLORES

Assombrada fica minha alma
E espantado o meu espírito
Porque no caminho não vejo flores
Somente sinto espinhos, sequer vejo as cores
Até sinto o perfume, mas não sinto amores
Como algo invisível, intocável, inconcebível
mas que tenho a certeza que aqui está.

Como pode a natureza humana
Se endurecer, se amordaçar,
Ser o seu próprio algoz
o seu próprio inquisidor
Se materializar no silêncio de sua voz
Negar sua liberdade, comer o resto, lamber o prato
Morrer sorrindo, e dizer: não sinto dor.

Assombrada fica minha alma, quando vejo então
Que usam cabrestos e aceitam celas
Animais ensinados, inteligência burra
Insanidade perfeita para as regras
A exatidão dos passos medidos milimetricamente
Para serem iguais, imperfeitamente iguais
Mansos e perfeitamente adestrados
Assim como bestas, que andam livres pelos pastos
E tem a visão de seu infinito horizonte
Até ali, onde estão as porteiras e a cerca
De arame farpado.

Chora o meu espírito, derrama-se em lástima
Meu coração, ver assim alegrias furtivas,
Sorrisos passageiros, esmola moral.
“Ah! Mas tá bom, primeira pagina do jornal
Sou astro, sou grande, por hoje sou rei!”
Que mísera e infame abnegação.

Sou gente, sou sangue, sou suor, sou semente
Sou povo, sou único, sou eu a minha própria razão
Bandeiras eu ergo pois sou também minha nação.

Que não chore mais meu espírito, nem sucumbam
Nossos sonhos aos devaneios de alguns
Que eu sinta o cheiro das flores, que eu veja as cores
E por que não, que eu sinta amores
Proclamar a liberdade, libertar a voz, a vaidade
Expandir enfim seu horizonte, acordar do sono constante
De ser um número e nada mais.

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